Zerado dia 18/12/21

Dois amigos e eu sempre jogamos umas coisas juntos e adicionamos outros à lista de jogos multiplayer pro futuro. A grande maioria dessas experiências acabam sendo fracas ou mesmo ruins, mas meio que já temos consciência disso ou mantemos as expectativas baixas, como foi com o recentemente terminado ibb & obb.
Como agora eles moram bem mais perto agora, eles me convidaram para jogar o It Takes Two que, para a minha surpresa, já está disponível no EA Access (isso umas duas ou três semanas antes dele levar o título de Jogo do Ano no The Video Game Awards).
Estava curioso com esse título desde que soube da sua existência, até porque curti os outros do mesmo estúdio.

Bom, tiramos o sábado para jogar. Imaginei que não daria tempo de ir até o final, mas acabou dando sim! Mas nos custou o dia todo, da hora do almoço até umas duas horas da manhã (mas nem vimos o tempo passar e fizemos pausas para comer etc).
De início o jogo já era meio o que eu esperava mesmo, mas tive algumas surpresas. Primeiro que o enredo gira em torno de pessoas realistas. Como eu não vi nada sobre ITT, eu realmente não esperava ver esse tipo de coisas.
Em segundo lugar, e já relacionado, é que a história acontece graças ao drama de uma família em que os pais resolvem se divorciar e a filha sente o impacto dessa decisão. Para ser sincero, o enredo é bem coisa da Globo Filmes e deu para imaginar que seria o tipo de animação dublada pelo Fábio Porchat e Ingrid Guimarães. Brincamos muito com isso, até porque filmes como Se Eu Fosse Você são piadas recorrentes entre nós e é bem isso mesmo.

Os pais, sempre muito ocupados, não dão muito atenção à filha, que pede aos seus únicos amigos, seus brinquedos, que seus pais continuem juntos.
Em seguida os pais acordam como bonecos e, assustados, passam por diversas situações afim de chamar a atenção da filha e voltarem aos seus corpos originais. É aí que entra um tema MUITO recorrente no jogo: reconciliação de casal. Você já assistiu aquele programa "Love School" da Rede Record? Pois é...
Bom, a temática não me conquistou de primeira, apesar de ser um bom ponto de partida para a história de ITT, e nem me conquistou depois. Situações e discussões se repetem por toda a duração da aventura e fica bem repetitivo. Isso e os personagens que insistem em voltar o tempo todo, como um livro que serve de tutor para unir os dois que as vezes vem, fala um monte de coisas de união, cooperação e amor, some e volta em sei lá, 1 ou 2 minutos para falar mais do mesmo em cutscenes.
Na verdade esse lado positivo e racional da experiência chegou a ser meio "cringy" e eu comecei a me questionar se eu não era o público do jogo se eu não estivesse jogando com uma esposa.

Porém, JOGO DO ANO.
Não conseguíamos ignorar os defeitos de ITT, então acabávamos fazendo piadinhas com o GOTY com alguma frequência.
Mas o fato é que a graça dele era a jogabilidade, não o enredo que chegou a se tornar chato.
Cada fase acontece numa parte da casa. A primeira é naquelas cabanas que os americanos guardam ferramentas e tralhas. Aprendemos a correr, pular, pulo duplo, dash (inclusive no ar) e os demais movimentos. Não vou mentir que estranhei um pouco essa alta mobilidade e quantidade de movimentos no início pois os personagens são bonecos, mas a verdade é que você tem que interpretar a cosia toda como um sonho ou viagem da imaginação pois os desenvolvedores puderam e tomaram muitas liberdades na aventura. Basicamente, não é algo realista e tudo é permitido.
Nesse primeiro estágio aprendemos a primeira habilidade dos protagonistas: ele atira pregos e ela usa uma ponta de martelo para se pendurar neles quando presos nas paredes. Todas as fases do jogo tem temáticas diferentes e mecânicas/habilidade diferentes, e isso é muito divertido!

E falando nessas habilidades, elas costumam funcionar de forma complementar: eu interajo com um objeto com o meu poder para que você possa usar o seu e vice-versa. É importante saber disso pois ITT é completamente focado no trabalho cooperativo de duas pessoas e não tem como ser jogado sozinho.
Ou são duas pessoas localmente, ou são duas online (não testei se é possível jogar de dois online com apenas uma cópia como no A Way Out, mas chuto que sim). Não há modo Single Player e não há como avançar mesmo tendo dois controles e deixando um deles parado (talvez alternando, mas há ações a serem feitas simultaneamente).
A dica do dia é baixar e usar o programa de PC chamado Parsec, que faz com que as pessoas joguem ou assistam jogos como se estivessem usando um único computador. Esse programa gratuito permite que um host faça stream da sua máquina online e os outros possam logar e o delay é quase imperceptível. Funciona bem mesmo em máquinas mais fracas e It Takes Two provavelmente está mais forte agora por lá mais do que nunca!

Uma das partes legais do jogo é que os cenários costumam ser grandes em diversas partes e ele é splitscreen o tempo inteiro, mesmo estando um ao lado do outro. Assim como o A Way Out, é possível se separar para muito longe e há caminhos exclusivos para um ou outro certos momentos.
Uma das partes chatas é que as fases são um pouco longas demais. O uso das temáticas e mecânicas acaba ficando muito repetitivo do tanto que a coisa se arrasta e fazemos puzzles parecidos uns com os outros. Eu ficava cansado e passava o controle pro outro amigo sempre que terminava um estágio, então a dica é mesmo jogar um cenário por vez e já que são 7 no total, fazer com que a experiência dure no mínimo uma semana. Talvez metade disso para os mais apressados. Houve um momento que um dos amigos imaginou que estivéssemos na metade da aventura pela forma como as coisas estavam se desenvolvendo. Pesquisei online e estávamos na segunda fase. Eu realmente achei o jogo meio arrastado.
Fora isso, as fases são meio lineares, com exceção dos puzzles. O fato é que se há um caminho na sua frente, é para lá que você vai seguir e seguir sem olhar para trás. Não há motivos para explorar, segredos ou coletáveis, então nem perca seu tempo. Uma pena. Como jogamos no PC pela EA, não haviam conquistas também.

Para sair da mesmice e linearidade, a liberdade dos criadores permitiu diversos tipos de variações mesmo em cada fase e muitas referências engraçadinhas.
Houve um momento de luta estilo Street Fighter, voos estilo Star Fox, patins no gelo ou Bobsled pela diversão e inúmeros minigames opcionais e competitivos em que era eu contra o meu amigo. Legal! E esses minigames são adicionados ao menu principal de ITT e podem ser acessados a qualquer momento posteriormente para dar uma sobrevida bacana a ele.
Gostei de uma seção de uma fase em que o jogo se tornou um clone de Diablo. Uma pena que foi um momento relativamente curto. Rimos muito quando derrotamos um chefe que caiu na lava se derretendo e eu fiz o "joinha" do Exterminador do Futuro e o boss fez o mesmo dois segundos depois, haha.

Mas eu enjoei, e enjoei muito conforme jogávamos. Quer dizer, o jogo deslanchou e deixou a mega simplicidade do início de lado e se tornou algo melhor e mais bem pensado, sobretudo com alguns puzzles surpreendentes, mas algumas coisas me cansaram muito:
-Os personagens. Jesus. O personagem masculino, Cody, é meio babaca e chato. Eu realmente odiei o personagem.
-O lado hollywoodiano do jogo, que é bem forte. Parecia um daqueles filmes que passam no Domingo a tarde na TV. As personalidades e como o enredo é contado. Isso geralmente é bem pop e dá certo para a maioria das pessoas, mas não é o caso comigo, infelizmente.
-Pequenos furos ou falta de lógica na história. Isso é coisa minha, mas eu tive dificuldade de conseguir dividir até onde o jogo era pé no chão e até onde tudo era permitido.
-As cutscenes, muito recorrentes, com os mesmos personagens, mesmos tons de voz e situações, lições e pensamentos parecidos.
-Os personagens cometem atos completamente babacas para conseguir algo, inclusive torturando outros personagens de forma bizarra e cruel. Coisa sem noção mesmo e não deu pra ficar do lado deles nisso.

Resumindo: It Takes Two é um jogo muito bacana e que frequentemente inova em seu gameplay, além de trazer uma mensagem positiva para os jogadores. Me perguntei do início ao fim de esse jogo merecia o título de Jogo do Ano 2021, e ainda não tenho certeza sobre a resposta. Acho que ele merece por sua simplicidade de gameplay, sua mensagem e variedade que servem para qualquer jogador, além de ser mais Pop. Mas eu ainda ficarei devendo um certeza que ele é melhor do que um Metroid Dread ou mesmo Ratchet & Clank: Rift Apart. Um dos amigos desgostou de ITT e mencionou que o jogo não chegou aos pés do Psychonauts 2.
De bom: jogo muito bonito. Legendas e textos em Português brasileiro. Co-op local ou online muito bacana para duas pessoas. Simples para qualquer um conseguir terminar. A experiência é quase uma terapia para casais ou livro de autoajuda. Muita variedade de gameplay e mecânicas de fase para fase. Total autonomia no splitscreen. Umas referências bacanas, como um áudio que achei do criador falando mal da premiação do Oscar há alguns anos na E3.
De ruim: fases que se alongam demais e repetem demais seus puzzles e usos da habilidade. Acredito que a falta de uma dublagem em Português infelizmente afeta um pouco da experiência para algumas pessoas, inclusive filhos que possam estar assistindo os pais jogar. Os protagonistas agem de forma babaca e cruel em alguns momentos. O final da história é horrível. O lado hollywoodiano e o personagem masculino são um pouco irritantes.
No geral, curti a experiência e definitivamente é o melhor jogo da produtora (gosto bastante do A Way Out e seu lado mais realista) e não só recomendo para os leitores do Alvanista como recomendarei para amigos específicos, sobretudo casais que jogam casualmente. Mas não senti que a experiência foi forte ou marcante para mim. Foi como ver um filme de animação 3D, bonito e divertido, mas não o que eu consideraria uma obra de arte ou "masterpiece". Valeu o GOTY? Talvez. Variedade e diversão versus uma concorrência duvidosa. Pra mim, apenas mais um jogo.

Esse jogo está na minha lista de desejos da Steam a uns bons tempos.