Zerado dia 18/03/23

A trilogia Crash Bandicoot do Playstation fez parte da minha infância. Ia nas locadoras e não conseguia parar de jogar! Mais tarde amigos e familiares adquiriram o console e não tinha jeito: eu sempre adorava Crash. Quer dizer, eu não curtia tanto o primeiro pois achava meio sem sal e o 2 era massa demais (até confundia qual era qual entre ele e o 3) mas o meu predileto era o Warped!
Esse jogo tinha um pouco de tudo: fases bem boladas de plataforma com temáticas maneiras, plataforma em 2D e 3D, fases fugindo de inimigos em direção à câmera, fases no avião, no jetski, montando o tigre. E os muitos coletáveis, a trilha sonora maravilhosa e visuais coloridos e amigáveis juntos à uma enorme variedade de inimigos e um nível de dificuldade que simplesmente viciava!

Quando saiu o 4: It's About Time eu não sabia o que pensar. Sei lá, o pessoal tem tentado fazer a franquia dar certo novamente desde a trilogia e o de corrida do PS mas sempre bombou (de forma negativa) desde que o seu desenvolvimento deixou de ser feito pela Naughty Dog e passou para outros diversos times pelos anos e em todas as plataforma.
O Crash foi também para os consoles rivais, que nem o Sonic, e saiu também para Gamecube, Game boy Advance, DS, Xbox e 360, fora o que veio depois.
Mesmos em jogar nada eu nunca tive a menor vontade de conhecer nenhum desses jogos que as pessoas continuam falando mal até hoje em dia.
Voltei a jogar os originais lá para 2014 quando fui atrás de terminar todos eles (eu no máximo ia bem longe na época) e sofri bastante com o primeirão. Que jogo tenso!

Indo mais para a frente, em 2019 um aluninho me emprestou o remake da trilogia, N' Sane Trilogy, no PS4 e era um remake sensacional e muito fiel. Já no ano passado dei uma chance para o Wrath of Cortex de PS4 pois tenho um amigo que o adora e, bem, eu achei ele legal apesar de copiar descaradamente o Warped e ter momentos frustrantes.
Com o desbloqueio do Switch e a boa fama do 4, eu comecei a ficar muito curioso. Muito mesmo! E foi um dos primeiros que baixei no console mas a vontade de jogar algo difícil e tal me segurou por um bom tempo. Na época do lançamento eu também vi um vídeo de comparação e essa versão era relativamente diferente das outras. O clássico downgrade do console da Nintendo.
Foi assim até do nada bater a vontade de jogar plataforma 3D e pelo fato de ele ser um título pesado e ocupar muito espaço. Partiu!

Começando a aventura, o jogo tem cinemáticas bem caprichadas tipo um filme da Dreamworks da vida e dublado em Português! Poxa, eu totalmente assistiria esse filme. Essas cinemáticas nos situam no enredo que continua diretamente a história do 3, de 1998. Muito da promessa do 4 é justamente trazer a qualidade dos clássicos de volta.
A primeira fase é demais! É tudo muito bonito e você se sente jogando Crash mesmo. Bem, está tudo lá: pular buracos, rodopiar para derrotar os inimigos, corredores com armadilhas, caixas e TNTs. É bom demais!
Em seguida conhecemos o mapa do jogo, que segue a lógica do 1 com fases depois de fases ao contrário da liberdade de escolher à sua preferência do 2 e 4. Também lembra bastante o do Donkey Kong Country Returns!

E falando nisso, acho justo dizer que Crash 4 está para a trilogia clássica como Tropical Freeze está para a trilogia clássica do DK no SNES. É exatamente isso, incluindo jogadores com aquele papo de que falta algo e que vivem da nostalgia da era.
Também vou dar o "spoiler" de que a versão do Switch é incrível! Eu não joguei a dos consoles concorrentes mas essa versão do Nintendo não deixa nada a desejar. Nem mesmo tem aqueles visuais meio esquisitos que alguns jogos com downgrade costumam ter. Houveram dois momentos que rolaram queda de frame e apenas em uma fase realmente atrapalhou. O jogo é difícil e exige precisão na jogabilidade e garanto que deu para jogar numa boa. Recomendo, apesar que se você tiver múltiplas plataformas a dica é mesmo pegar sempre numa mais potente.
Para quem curtiu a N' Sane Trilogy, 4 é a continuação natural e é um trabalho sensacional da Toys for Bob, sem dúvidas. O jogo mantem demais a alma da franquia como deveria ser e adiciona elementos que o fazem original. A sensação é de eu estar jogando o remake de um Crash 4 que nunca saiu. Uma ótima pedida para voltar aos Crash e ver algo novo depois de 25 anos enjoando da trilogia do PS. Também uma ótima pedida para a nova geração conhecer, sem mongolices e sem dificuldade besta.

It's About Time é um trocadilho entre "Já era hora", pois esperamos essa sequência há muito tempo, com sua temática que mistura viagens no tempo e espaço. E essa coisa temporal é demais pois os desenvolvedores puderam criar diferentes mundos baseados em diferentes temas e eras.
O próprio mapa da aventura liga diversas eras pois aberturas no tempo-espaço e eu curti demais isso. Lembra um pouco os trailers do mais recente Ratchet & Clank.
Os estágios em si são incrivelmente inspirados e caprichados e trazem tanto algumas mecânicas clássicas de volta como adiciona desafios novos. Agora cada um deles tem 7 gemas a serem coletadas: 3 baseadas em porcentagem de frutas coletadas (40, 60 e 80%), 1 de quebrar todas as caixas, 1 de morrer no máximo três vezes e 1 escondida.
Fazer tudo isso exige que você jogue bem, se familiarize com as fases e explore bastante. Definitivamente aumenta bastante o replay da jogatina mas você não precisa fazer tudo de uma única vez. Coletar todas ainda te recompensa com uma nova skin.

Muita gente reclama da dificuldade, e o jogo é mesmo acima da média, porém também sinto que estamos muito habituados a jogos fáceis, além do fato de que hoje em dia tudo tem que ser rápido e quando um jogo te segura e demanda múltiplas jogatinas, como antigamente, o pessoal fica irritado. Para se ter noção, esse jogo tem vidas infinitas (ele conta o número de mortes) e depois de morrer bastante ele ainda te dá uma máscara do Aku Aku que garante mais um ponto de vida.
O level design é muito criativo e a OST é fantástica, mas o que me irritou mesmo não foram as mortes mas sim o fato dos estágios serem muitas vezes bem longos e alguns Checkpoints serem um pouco distantes. Acaba que você morre em um desafio e tem que refazer dois ou três.
Tirar a neura de ter tudo também me ajudou bastante a prosseguir pois muitas mortes eram por eu estar tentando quebrar uma caixa a mais ou coisa assim numa situação intencionalmente bem apertada.
A mecânica nova envolve o uso de máscaras especiais disponibilizadas em partes específicas de alguns cenários e que serão liberadas conforme você avança na campanha.
Essas máscaras mudam inclusive mudam a aparência do Crash (ou Coco, pois agora você pode jogar com qual quiser) e ativam poderes ao apertar o gatilho direito. Uma delas faz algumas coisas aparecerem e outras desaparecerem, como se alternasse entre duas dimensões diferentes. Outra deixa o tempo bem devagar por uns segundinhos etc. Essas mecânicas diferentes juntas à dificuldade clássica da franquia deixam a experiência desafiadora mas raramente parece injusto ou frustrante.
Outra novidade em Crash 4 é que alguns personagens diferentes são jogáveis em algumas poucas fases. Eles jogam bem diferente e tem mecânicas próprias e mais tarde são abertos estágios paralelos à história para cada um deles. Também são abertos desafios de quebrar todas as caixas (tipos os bônus comuns dos clássicos, porém em estágios extensos) e todas aas fases comuns ganham versões espelhadas, incluindo os coletáveis. É conteúdo demais!

Resumindo: Crash Bandicoot 4: It's About Time é a sequência que a franquia merecia desde o Warped! O jogo é incrivelmente bem-feito e desafiador no ponto certo ao invés de seguir um caminho facílimo como muitos outros grandes seguiram. Esse é um jogo para morrer, morrer e morrer mais até conseguir progredir, da forma como era antigamente e você deve ter isso em mente. Porém nunca que o jogo forçou essa dificuldade e realmente achei bem próximo do nível Naughty Dog dos anos 90.
De bom: ótimos visuais, mesmo no Switch. Jogabilidade muito boa. Trilha sonora excelente. Temática de viagem entre dimensões traz muita variedade aos mundos da campanha. Vários personagens jogáveis, coletáveis e desbloqueáveis, fazendo com que esse jogo seja um verdadeiro INFERNO para quem for fazer 100%. Mecânica das máscaras muito bem implementada. Ótimo fator replay.
De ruim: alguns estágios parecem serem longos demais, tanto que o número de caixas a serem quebradas por estágio normalmente fica entre 250 e 400+. Alguns checkpoints são um pouco distantes e você acaba tendo que refazer grandes porções das fases. A máscara do Aku Aku raramente dá as caras e eu nunca nem consegui levá-la ao nível 3 por conta de sempre morrer antes de achar o número necessário. Alguns hitboxes são ruins. Algumas armadilhas poderiam ter melhor aviso antes de inesperadamente ativarem e me matarem (o que resulta em tentativa e erro em algumas partes). Versão do Switch dá algumas travadinhas aqui e ali, mas tudo bem.
No geral eu gostei demais. Sinto mesmo que que Crash não é apenas 3 jogos, mas sim 4. E na verdade espero que se tornem 5 e é até difícil imaginar como fariam uma sequência depois das ideias utilizadas nesse. Se você curte a franquia, abra a sua mente para a modernidade e aceite o quão fiel essa experiência é, independente da nostalgia (que senti jogando isso). Jogo muito bom mesmo!

Eu joguei uns 2 mundos desses quando estava maratonando Crash no ano passado, eu sempre adorei e jogava demais no PS1, os de PS2 perderam muito a mão, a Naughty Dog do final de 90 - 2000 era sensacional e conseguiu mandar muito bem com série.
Já quem veio depois parece nunca ter acertado bem a mão, esse Wrath of Cortex é sim uma cópia descarada do 3, mas muito mau feita. Tem coisas legais, mas no geral o jogo é bem mediano, sendo mais frustrante que divertido em vários momentos.
Twin Sanity é um titulo interessante, tenta ter uma pegada mais ação e aventura e apelar mais para o humor, achei bem melhor que o que fizeram com o Wrath of Cortex, mas ainda sim é um game que deixa muito a desejar (vale a pena conhecer se não jogou)
Agora quando cheguei no 4 eu vi exatamente o que você falou, parecia realmente a seguencia prometida a tanto tempo, mas como funciona os colecionaveis, os lances de skins e até mesmo narrativa me passaram o feeling de "jogo mobile". Eu tentei empurrar pra frente pra ver se a má impressão passava, mas não teve jeito, os spikes de dificuldade na plataforma + check points longe acabaram azedando pra mim.
Eu ainda volto um dia para conferir e até terminar, mas presa, não cativou o suficiente, faltou um bom game design (dificuldade que escala, sem grandes spikes para desmotivar o jogador, basta ver o 3, primeiro mundo suave, 5 mundo o pão que o Cortex amassou) e mais carisma na minha opinião.