Hoje em dia, após coisas como Naruto e Bleach esticarem suas histórias pueris por quilômetros com arcos nonsense (ou mesmo séries gringas fazendo merda, como o funesto final de Game of Thrones), a palavra filler (que seria um evento na adaptação de uma história que não é pautado no material original da mesma, sendo mangá, hq, livro, jogo, etc) acabou se tornando sinônimo de porcaria, de parte desnecessária, de enrolação e, como eu já comentei a respeito nos casos estranhos dos animes modernos, a vida de muita gente é corrida demais, então a maioria não quer perder tempo com coisas muito longas e decidem ir logo para algo de consumo mais rápido (o que também leva muitos a virarem mangafags, mas isso fica para um outro dia).
Porém, por mais que a existência do filler em si pareça apenas um artíficie para encheção de linguiça (e que muitas obras usem eles apenas para isso mesmo), ele está longe de ser sinônimo de algo de qualidade inferior, e por isso hoje, aqui no Arco, trarei 5 animes fillers que superam com louvor as versões originais, mostrando que roteiristas competentes podem fazer mais bem para a obra do que os próprios autores da mesma. Enfim, chega de papo e vamos ao que interessa!
5 - Saint Seiya/Os Cavaleiros do Zodíaco

CDZ dispensa apresentações, afinal foi o anime que fez os desenhos japas estourarem por aqui no Brasil e é até hoje querido por muitos. Mas o que muita gente não sabe é que várias coisas da série de TV não existem no mangá de Masami Kurumada, como os Cavaleiros de Aço e mesmo a icônica saga de Hilda de Polaris (das safiras de Odin e tudo o mais), com esta última conseguindo ser melhor até que o arco cânone posterior, o de Poseidon (que é só um repeteco das 12 casas, basicamente).

O autor também não desenhava muito bem no começo, e com isso o design dos personagens e das armaduras no começo do mangá é bem rústico, e quando foram adaptar a série pra TV até refizeram as armaduras dos cavaleiros (seja os de ouro ou os de bronze), deixando tudo bem mais estiloso, e vindo a se tornar a série clássica que marcou a infância de muita gente.
4 - Tales of Zestiria: The X

Tales of Zestiria é disparado um dos piores jogos da franquia Tales of, seja por suas escolhas infelizes em gameplay ou por sua história extremamente fraca, repleta de escolhas ruins de cast e uma série animada desse desastre, à primeira vista, não seria uma boa escolha. Mas, para ajudar na propaganda do Tales of Berseria (que é uma prequel de Zestiria), e para comemorar os 20 anos da franquia, a Bamco fez em 2016 um anime chamado de Tales of Zestiria the X... E os malditos acertaram em cheio!
Acertaram até na opening!
Claro que muitas piadas e certos eventos da trama foram resumidos (afinal, é um jogo de 40 horas pra um anime de umas 8), porém além de fazerem uma ligação melhor com o Berseria (com direito até a um episódio inteiro só dele), conseguiram consertar a Rose (que era disparada a pior personagem da história) e deram o devido destaque para a Alicia (que era a melhor personagem da trama, e foi tremendamente mal aproveitada lá). Portanto se alguém tiver curiosidade com a história de Tales of Zestiria, esse anime é disparada a melhor opção.
3 - Chrno Crusade

Chrno Crusade foi um anime de 2003, bem no meio do boom da animação japonesa, e ele fez bastante sucesso entre a galera que baixava e assistia no PC na época (lembro de ter uma revista que falava dele até), ainda mais por ele tratar de temas envolvendo demônios (e a galera aqui adora essas coisas) e de seu final extremamente marcante. Daí, quando fui vê-lo lá pra 2009/2010, acabei indo para o mangá logo em seguida, li-o todo, gostei... Mas passou uma semana e não me lembrava de praticamente nada que havia acontecido!

Isso porque a história do mangá, por mais que ela seja mais detalhada, tenha uma arte boa e aproveite mais alguns personagens do que na animação, ela é um tanto genérica, e o seu final é bem típico de um filme de sessão da tarde. Enquanto o anime, mesmo com um menor tempo de história, conseguiu criar algo com um diferencial bem maior, e acabaram criando uma história, mesmo que mais curta, que mereceu o devido espaço na memória de longo prazo dos espectadores.
2 - Ah My Goddess: O Filme

Ah My Goddess é um harem criado pelo Kosuke Fujishima ainda na década de 80 (com o mesmo só indo terminá-lo por volta de 2014), e nesse meio tempo ele criou um lore incrível com um bom cast de personagens secundários... Mas também enrolou sua narrativa até a morte, com seu protagonista zé roela Keiichi e seu fascínio por motos e automobilismo no geral (algo que na adaptação para anime de 2005 fizeram o favor de diminuir) estagnando ainda mais o development de seu relacionamento com a deusa Belldandy...
E onde entra o filme de Ah My Goddess nisso tudo? Ele foi lançado no ano 2000, tendo uma animação incrível, CGs extremamente bem utilizadas e uma história que nunca aconteceu no mangá (e também 2 personagens únicos), e que conseguiu tocar em pontos que o próprio material original nunca chegou sequer a arranhar, trazer mais detalhes sobre o mundo das deusas (que a própria animação de 2005, fiel ao mangá, falhou em fazer) e até mesmo dar uma sensação de ameaça maior para os personagens! Foi certamente um grande trabalho por parte dos roteiristas, e só não toma o topo na nossa lista porque tem outro anime que conseguiu fazer um trabalho ainda mais incrível nesse sentido...
1 - Sailor Moon

Sailor Moon foi um mangá feito pela Naoko Takenuchi em 1991, trabalho esse que foi usado como base para a animação clássica lançada pelo Toei Animation 1 ano depois. Porém, durante a conversão, os roteiristas perceberam que o material original era cheio de problemas e limitações, muitos destes que não fariam a série ser agradável para um público grande (como o fato dela ser um shoujo, com a protagonista sendo extremamente insegura para representar as adolescentes que seriam seu público-alvo), então trataram de mudar elementos da história, alteraram personagens (com a principal sendo a Rei Hino, a Sailor Marte), adicionaram uma arte que não remetia tanto à da autora (que na época era feia que dói) e pimba: Sailor Moon se tornou grande e acabou virando o clássico que é nos dias de hoje.

Com o tempo curto entre o lançamento do mangá e a produção do anime, vários episódios fillers também foram adicionados, e por mais que alguns deles sejam realmente nonsense (como um na segunda temporada, da Chibiusa cuidando de um dinossauro), a maioria esmagadora deles acrescentou muito no character development dos personagens, dando o devido tempo de tela para estes se desenvolverem e solidificarem os laços entre si. Aliás, um dos diretores de Sailor Moon (parte dos responsáveis por transformar o patinho feio da Naoko em um cisne) foi Kunihiko Ikuhara, que usou sua experiência no show para criar Revolutionary Girl Utena tempos depois e até disse em certa entrevista que a série teria sido melhor se não tivesse tido tanto a intromissão da autora (algo que, tendo em mente as adaptações fiéis ao mangá mais recentes de Sailor Moon, faz todo o sentido).
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Existem mais animações fillers que superaram os originais (seja em algum ponto em especial ou ao todo), mas para o post não se estender ainda mais, paremos por aqui. No geral, por mais que "canonicidade" seja algo extremamente importante para muita gente, taxar uma adaptação como ruim apenas por ela não respeitar o material original (sendo que ela pode ter tido o dedo de roteiristas muito mais competentes que o próprio autor) não é o certo a se fazer.
Existem fillers ruins, existem fillers bons, existem histórias ruins, existem histórias boas. Resta a nós, espectadores sabermos diferenciá-las e dar os devidos louros àquelas que realmente se destacaram... E, no caso da Velha, bengaladas naquelas que errarem feio, huahua. Enfim, até a próxima!
Caramba, o Nomura por acaso tá ajudando nos designers nesse sucessor de Wild Arms? Cinto pra tudo quanto é lado kkkk