Produção de conteúdo ou, "como me tornei o Sr. Wilson?".

Eu estava aqui lendo uns artigos, não apenas na Alvanista, mas em outros sites, como o "Medium", sobre diversos temas, e uma coisa me fez pensar e gostaria da opinião de vocês. 

Tenho 35 anos, sou de uma geração e de uma criação que quando sentava para ler um "artigo" era pra realmente ler um texto com exposição de ideias, desenvolvimento de argumentos, e quando terminava a leitura, saía do texto com aquela sensação de que consumiu um bom conteúdo, de que pensou realmente no assunto. É claro que, com isso, os textos eram maiores, demandava mais tempo de leitura, um pouco mais de concentração. 

Hoje em dia, com a desculpa da "correria do dia a dia", do "tenho muita coisa pra fazer", de ter muito "conteúdo" pra consumir em pouco tempo, a gente resumiu nossa vida em 280 caracteres, em vídeos curtos estilo "reels", "tiktok", "shorts" e pra mim isso empobreceu de modo absurdo todo tipo de conteúdo, fazendo com que quase tudo seja tratado de forma muito pobre. É claro que tem exceções, às vezes um conteúdo rápido pode chamar sua atenção e fazer com que você pesquise sobre o assunto de modo mais profundo, mas vamos combinar, 99% do que as pessoas salvam pra pesquisar depois só fica mesmo na lista dos saves e o superficial fica na superfície mesmo. Resumindo, temos aí uma geração que tem muita opinião e nenhum argumento sobre suas próprias opiniões. E quando tem argumento é muito pobremente desenvolvido. É tipo "tudo o que você precisa saber sobre o que eu acho do mundo em 30 segundos".

Com o tempo eu parei de ler o que chamam de "artigo" em vários sites, pois basicamente são opiniões soltas, sem desenvolvimento, basicamente jogam a ideia e não discutem, não analisam pontos de vista, etc. Em resumo, é só emissão de opinião sem reflexão. Fiz Jornalismo, Letras, e agora Análise e Desenvolvimento de Sistemas, e o que fui percebendo nessa experiência é como foi-se sacrificando a reflexão em nome da "informação pela informação", e os textos foram encolhendo para atrair mais pessoas, e se você publica mais de tantos parágrafos, tantos caracteres, as pessoas simplesmente não vão ler.  Eu mesmo já caí nessa cilada.

Alguns podem chamar isso de concisão, mas não é. Não se pode confundir concisão com superficialidade. Não se pode confundir uma coisa simples com uma coisa simplória. São coisas diferentes. Você pode ser conciso na exposição das suas ideias, mas isso não implica obrigatoriamente em uma exposição simplória e reduzia a um número de caracteres. 

No geral, quando vejo algo classificado como "artigo" e vejo que é bem curto, eu nem me dou o trabalho de ler, pois sei que vai ser muito pouco desenvolvido. É claro que não quero ler 15 páginas, uma coisa sem fim, se quiser um aprofundamento vou ler um livro, não um artigo, mas quero apenas uma coisa mais pensada, afinal um artigo é mais do que uma mera apresentação de opinião. Fico meio de cara com "artigos" em sites por aí que a pessoa escreve dois parágrafos, não falou nem metade do que o tema merece e ainda é aplaudido. 

Penso muito nessas coisas, pois por vezes eu mesmo me interesso por produzir conteúdo escrito, não só sobre games aqui na Alva, outros assuntos em outros lugares também, mas meu conteúdo vai quase sempre ser um pouco mais extenso e sempre esbarro no pensamento que diz "pra que me dar ao trabalho se provavelmente ninguém vai ler?".  Apesar de me expressar muito bem oralmente e receber muitos elogios à minha oratória, não é minha forma preferida de expressão, não gosto muito de falar, por isso produzir conteúdo em vídeo pra mim sempre esteve fora de cogitação. Não lerem meus textos pelo conteúdo ser ruim tudo bem, mas não lerem por simplesmente ser um pouco mais longo que o usual é de doer. Por outro lado eu penso "bem, eu gosto de produzir isso, é uma forma de expressar coisas que estou pensando, e só vale a pena conversar sobre isso com quem se der ao trabalho de ler, se não quer ler por preguiça ou pressa, não tenho nada mesmo o que falar com essa pessoa, e vida que segue". 

E vocês, são do tipo que leem textos mais longos (nada muito longo, claro, mas mais desenvolvidos)? Preferem textos curtos, são do tipo que só querem a informação mesmo e pronto? Claro que estou falando aqui de "artigos", não de texto informativo. O que eu tô falando faz sentido ou estou parecendo mais o senhor Wilson do Dênis, o Pimentinha, um velho chato sentado na varanda reclamando "aaaah esses jovens infernais"?