Autor do livro Canções de Bruxas e Rapsódias de Fadas Negras disponível na Amazon em ebook.
over 1 year ago 2022-04-17
Crítica escrita por thecriticgames · over 1 year ago
Se existem grandes histórias em games e livros hoje é porque o caminho até elas foi pavimentado por histórias grandiosas no passado e se Final Fantasy se destacou em anos posteriores com títulos como o seu sexto, sétimo e décimo episódios foi pelo caminho construído até ali por grandes jogos que os precederam, dentro e fora da franquia. Se após o incrivel primeiro FF a franquia falhou com os episódios II e III o mesmo erro felizmente não ocorreu com o quarto título que chegou na américa como se fosse o segundo, Final Fantasy IV é o fruto da tentativa de pegar os elementos mais certeiros da saga até aqui e fazer um jogo mais voltado para a trama, história e seus personagens como em um épico filme estabelecendo para a saga e para muitos dos demais jRPGs que viriam após o mesmo o conceito de storytelling dramatico. Lançado em 1991, logo no segundo ano de vida do SNES/SFAM quando o console ainda era pouco explorado (ainda que recebesse também naquele ano outro de seus títulos mais famosos A Link to the Past), Final Fantasy IV era um dos primeiros jRPGs do console e trazia assim como ja estabelecido na saga um episódio sem ligações cronológicas com os predecessores, mas trazendo ainda um mundo de magos, guerreiros, cristais mágicos, chocobos, entre outras criaturas comuns aquele estilo de mundo.
A trama do jogo se desenrola no Planeta Terra ou Planeta Azul como denominado em alguns documentos e comentários em um mundo medieval fantástico que vivia em equilíbrio por conta de 4 cristais elementais que traziam um equilíbrio a natureza, de forma similar ao visto no primeiro e terceiro episódio, só que tudo muda com um dos maiores e mais poderosos reinos militares o Reino de Barom que decide sob comando de seu rei atacar e roubar os cristais de demais reinos em ataques realizados com seu exercito e com suas airships, navios voadores a esta altura da saga já famosos. No comando de tais tropas tínhamos o protagonista, Cecil Harvey um cavaleiro negro e comandante dos Red Wings como eram chamados a tropa que utilizava das airships para suas ações, um servo e filho adotivo do próprio rei que servia a tais atos violentos sem consentimento e compreensão da necessidade disso. O banho de sangue promovido pelo seu reino não era a única coisa estranha naqueles dias, já que as criaturas selvagens haviam se tornado mais agressivas sem maior explicação por algum motivo misterioso. Cecil não era o único a discordar dos atos vis de seu reino, junto do mesmo tínhamos Kain Highwind, um dragoon (classe de cavaleiros com armadura de dragão e lanças introduzidas á em FF II com Ricard Highwind) rival e amigo de infância de Cecil e Rosa Joanna Farrell, uma maga branca e arqueira, amiga de infância de ambos e alvo de um triangulo amoroso entre eles.
O triangulo amoroso é algo que vai chacoalhar Kain para o bem e para o mal durante a história além de contribuir para vários momentos dramáticos envolvendo o trio de amigos.
Só que ao tentar debater com seu rei o porque da necessidade de tais atos ele acaba destituído de seu cargo (mesmo com a intervenção de Kain ao seu lado) e a dupla acaba encarregada de uma missão secundaria tendo de derrotar um eidolon que guardava uma caverna para a cidade de Mist (eidolons são as criaturas invocáveis pelos summoners no mundo de FF IV) levando consigo também um artefato a mando do rei. Só que tal missão acarreta na morte do eidolon da caverna, um Dragão de Névoa que era invocação de uma guardiã da vila de Mist causando por consequência a morte da mesma e para piorar o artefato levado pela dupla se ativa sozinho liberando vários Bombs, um tipo de criatura flamejante causando incêndio e matando os habitantes da vila, fica claro naquele instante para a dupla de herois que seu rei era o responsável por aquela matança e sua maldade era por algum motivo ainda misterioso intencional, mas antes que pudessem se redimir tentando proteger a filha da invocadora do dragão da névoa a jovem revoltada invoca seu próprio eidolon Titan causando um terremoto que culmina no desaparecimento de Kain. Sem escolhas e ainda tentando se redimir, Cecil leva a jovem invocadora de nome Rydia para uma vila onde a defende com sua vida de homens de seu outrora reino que aparecem ainda tentando mata-la ganhando assim a confiança da jovem. Não demora também para um novo comandante dos Red Wings dar as caras no lugar de Cecil, o misterioso e poderoso Golbez, um warlock de armadura negra extremamente poderoso que passa a comandar os ataques aos cristais restantes, sendo posteriormente revelado como o verdadeiro arquiteto de tais ataques, comandando não apenas o Rei de Barom como tendo a seu dispor 4 Demônios Elementais (em uma clara homenagem aos 4 demônios do primeiro FF).
Enquanto no primeiro jogo da série tínhamos a reviravolta temporal aqui em FF IV a série novamente vai trazer outro plot-twist fora da bolha e padrão da narrativa, viagens para fora do planeta e embora possa parecer uma viajada da história falando aqui (com o perdão do trocadilho) ela vai se justificar muito bem em tudo de seu decorrer.
Isso tudo era apenas a pontinha de todo um iceberg de mundo, história e personagens incriveis que a trama nos apresentaria. Além de Cecil da jovem invocadora Rydia e de Rosa que eventualmente era encontrada fugindo de Barom a procura de seu amado Cecil o jogo ainda nos apresentaria eventualmente um sábio usuário de magias negras e brancas Tellah que vagava em busca de sua filha que havia fugido com um bardo que amava e cujo o relacionamento o próprio Tellah não aprovava, Edward Chris von Muir o bardo em questão que na realidade era o príncipe do reino de Damcyan um dos reinos portadores dos cristais e que apesar da bondade não possuía coragem, Yang Fang Leiden um monge o o maior mestre de artes marciais de Fabul outro dos reinos com cristais mágicos que se vê na obrigação moral de proteger seu reino e lutar contra o Reino de Barom, Palom e Porom, uma dupla de irmãos gêmeos, um mago negro e uma maga branca respectivamente que acompanham Cecil em uma missão especial de redenção e acabam se afeiçoando ao guerreiro trágico, Cid Pollendina, o classico Cid presente em varios universos sendo aqui o engenheiro de Barom e construtor das airwings sendo uma outra figura paterna para Cecil, Kain e Rosa cabeça dura e esquentado, Edge Geraldine, um ninja e príncipe de outro reino de cristais, Eblan que teve seus pais mortos por um demônio a serviço de Golbez, alem de um outro personagem o sábio Fusoya que não posso falar muito para evitar maiores spoilers, totalizando 12 personagens jogáveis.
Agora o elenco era feito de personagens com personalidade estabelecidas mais ou menos como em FF II e com um sistema de classes como o primeiro e terceiro FF, com o diferencial das classes serem fixas.
É notado pelas descrições que cada personagem tinha sua própria classe que agora era fixa, isso pelo valor de narrativa e identidade de cada personagem, tanto é que Cecil eventualmente se tornava um paladino (com mudança de sprite, equipamentos habilidades e tudo mais) e o entre e sai de cada um era em momentos fixos da história com o time sempre possuindo no máximo 5 membros. Além dos comandos de ataque, as classes possuíam habilidades próprias, como o monge que podia realizar um chute atingindo todos os inimigos, a invocadora Rydia que podia invocar os eidolons em combate, Kain podia em seu papel de dragoon realizar saltos fazendo o chegar me outra rodada causando grande dano, , Edge que utilizava magias na forma de ninjutsus e que podiam também arremessar armas não utilizadas pelo jogador para causar mais dano, fazendo com que cada um dos personagens contribuísse de forma única para a estratégia dos combates, só que certas habilidades como o ataque especial Darkness de Cecil como cavaleiro negro foram simplesmente tirados da versão americana por questões de censuras esdruxulas prejudicando parte do gameplay de sua versão americana. Os combates alias tinham como incremento uma nova forma de combate, tratava-se do ATB, Active Time Battle, um elemento novo que fazia com que as lutas mesmo por rodadas funcionassem como batalhas em tempo real, com ela cada personagem, de heróis a inimigos demorava tempos diferentes para realizar ações, magos demoravam mais para liberarem suas magias, ao tempo que guerreiros mais ágeis podiam utilizar ações mais rapidamente, isso também influenciava em ações de forma criativa, havia monstros que possuíam formas defensivas assumidas temporariamente que podiam neutralizar e até contra-atacar a ofensiva dos jogadores obrigando a estes usar a cabeça e deixar de atacar nestas horas, de forma similar o salto de Kain o deixava imune aos ataques realizados enquanto este estivesse no ar. Para aqueles que não eram tão ligeiros e preferissem algo similar aos jogos predecessores, era oferecia a opção do ATB Wait Mode, onde o tempo não passava enquanto você estivesse selecionando qual ação realizar, já no modo Active, mesmo selecionando itens ou magias de forma indecisa a porrada rolava solta.
O ATB era influenciado tambem por magias e efeitos de aceleração e lerdeza, personagens acelerados por tais magias iriam ter mais ações que os outros, o sistema foi tão revolucionário que iria dar as caras em Final Fantasies posteriores e outros jRPGs da Square como Chrono Trigger.
Magias como de costume se apoiavam em elementos e sistema de vantagens e eram algumas aprendidas em níveis enquanto outras eram aprendidas por personagens em momentos fixos da história, como Rydia aprendendo a magia de fogo ao dominar seus traumas pelo incêndio que destruiu sua vila, ou Edge aprendendo novos ninjutsus em um momento catártico de sua missão de vingança. Outra novidade do jogo eram a estreia dos save points, pontos específicos dentro de dungeons onde se podia salvar o jogo e usar itens para dormir e recuperar vida (em jogos anteriores ambas as coisas só podiam ser feitas no mapa). A travessia no mapa era feita através de navios, airships de vários tipos e tínhamos além do mapa externo posteriormente um mapa interno do mundo envolvendo um subterrâneo habitado por anões expandindo a trama e mundo do jogo, além disso ele era repleto de side-quests opcionais e secretas para se conquistar armas especiais para os personagens e até eidolons secretos para Rydia. Mesmo com essas novidades, FF IV não escapava de problemas muito frutos de uma má conversão para a versão americana. Como já mencionado algumas censuras removeram habilidades, mas elas também afetaram alguns pontos da narrativa e ainda há alguns bugs de gameplay causados na conversão como o sistema ATB falhando em fazer alguns personagens terem ações em batalha puladas, não era proposital, era puro fruto de bugs de conversões.
Final Fantasy IV é um jogo que funciona em prol de sua história e desenvolvimento de personagens sendo marcado por momentos chaves como o sacrifício de alguns dos membros do time ou momentos de evolução de personagens como o momento em que Edward supera a sua covardia.
Indo para os aspectos técnicos não podemos deixar de falar como FF IV era bonito, ainda que fosse um jogo do inicio do SNES gerando poucos títulos para comparação ele era evidentemente bonito, com sprites detalhados dos personagens, novamente estes contendo duas variações, uma para combates e outro para o mapa e mesmo ainda pequenos eles eram detalhados o suficiente para mostrar emoções, exibir olhos fechados, abertos, piscadelas, movimentação especifica de cada membro e até beijos entre eles. Os cenários estavam bonitos e coloridos mostrando o que o SNES conseguia produzir com as lutas possuindo terreno próprio além do cenário ao fundo, enquanto la em FF III as lutas possuíam um chão preto genérico. Alguns inimigos e chefes possuíam mais de um sprite denunciando transformações ou mudanças de posturas geralmente relevantes para as lutas (alguns possuíam membros específicos que podiam ser individualmente atacados, destruídos e regenerados aparecendo e desaparecendo conforme o caso). Os efeitos do Mode-7 do SNES o mesmo que criou as pistas do primeiro F-Zero no ano que precedeu FF IV entra em ação aqui nos mapas ao voar nas airships criando um efeito de movimentação dinâmica além do efeitos magicos incriveis nas magias tanto dos magos como dos eidolons invocados. A trilha sonora não iria ficar para trás tambem com o talento preciosíssimo de Nobuo Uematsu que mais uma vez entrega um trabalho digno de premio com musicas que conciliavam muito os sentimentos impregnados no momento da história como o épico Prologue ou seu tema principal homônimo, tema dramático das batalhas contra inimigos e o tema especifico das batalhas contra chefes além do Dreadful Fight guardado para batalhas contra os demônios elementais ou o tema da batalha final (um dos meus temas de batalha final favoritos dos jRPGs), tinhamos temas terriveis e pesados como o tema dos Red Wings, o dramatico Run! ou o imponente Gobeza clad in the dark, temas melancólicos Cry in Sorrow, Melody of Lute além do especial e sereno Theme of Love ensinado até hoje nas escolas.
A história de Cecil viria anos depois receber uma sequencia na forma de um jogo para Wii e PSP, mas isso é assunto para outra crítica.
Final Fantasy IV não escapou de ficar um tanto datado quando comparado com outros jRPGs do próprio SNES como Chrono Trigger ou o próprio Final Fantasy VI, mas como mencionado no primeiro paragrafo desta crítica tais coisas só vieram a ocorrer porque jogos como FF IV teceram os fundamentos para eles. Fica a recomendação de experimentar o jogo através de um de seus remakes (minha recomendação? A versão de PSP).
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