"You see, doc, God didn't kill that little girl [...] God doesn't make the world this way, we do."
almost 5 years ago 2018-04-05
Crítica escrita por edfalcao · almost 5 years ago
Lançado em 2016, Deus Ex - Mankind Divided é o 4º jogo nessa série que revolucionou o mundo dos videogames, sendo, esse, um jogo de ação e stealth com liberdade extrema e fortes influências de RPG. Lembro de sair da banca de revista empolgado, carregando uma revista de "detonado" de Tomb Raider Chronicles e, ao folhear, encontrei uma página de um review de um jogo esquisito chamado Deus Ex. Falemos de nostalgia, não é mesmo?
Apesar disso, o jogo se sustenta nos próprios pés. Para novatos na série (como eu), um inteligente resumão foi colocado de forma opcional no início. Percebi, de cara, que não se tratava de um simples jogo: Mankind Divided chega com seu microcosmos para abraçar vários tipos de jogadores.
O jogo se passa numa versão fictícia e futurística de Praga, em 2029. Dois anos depois do "incidente" (mostrado em Human Revolution), os aprimorados (pessoas com próteses cibernéticas capazes de lhes dar habilidades específicas) tentam encontrar seu lugar no mundo, sendo oprimidos em guetos cercados pela polícia local, que não necessariamente espalha amor pelas ruas. É como um "apartheid", só que mecânico.
Vivendo nesse mundo está Adam Jensen, que, oficialmente, é agente da Interpol através da Força-Tarefa 29, e, secretamente, compactua com o Coletivo Jaganata, um grupo de hackers que busca respostas para o Incidente.
Após a introdução, a primeira coisa a me impressionar foi o mapa do jogo.
Os guetos de Praga não são gigantescos... mas são concisos. O mundo, no lugar de extenso, é compactado. Toda esquina é repleta de informações e vida, de forma que o backtracking característico desse jogo em momento nenhum se torna monótono. Praga e suas ruas, seus becos, metrôs, telhados e até esgotos têm alguma história para ser contada. Fases enormes se dão em lugares tão detalhados que me surpreendi em nunca mais voltar lá, "como assim tiveram tanto trabalho pra desenvolver 1h30min de nível?", era o que eu pensava. Os mapas também são personagens do jogo. Tudo é altamente scriptado, de forma que os jogadores mais curiosos e sem noção vão perceber que às vezes as interações não são naturais, como "estar 100% nem aí enquanto você joga uma caixa em mim". Mas, jogador de RPG que sou, me abstive disso e resolvi "interpretar" Adam Jensen, o que me rendeu muito mais horas de diversão.
A jogabilidade do jogo é o fruto que a gente espera de mais de 15 anos de evolução. Os encontros com os inimigos, em geral, são livres pra serem abordados na furtividade ou no desespero. Como um órfão de Metal Gear Solid, me fiz no stealth, de modo que descobri que todas as fases funcionam numa mistura de labirinto e puzzle do melhor jeito de serem resolvidos. Os inimigos não são burros e não vacilam, mas não são tão letais quanto nós. Os aprimoramentos são extremamente úteis, mas, propositalmente, imperfeitos. No fim das contas, o jogador tem que ser a arma.
Minha única ressalva é o fato de que, em combate, a energia do jogador é drenada de forma... desleal. Deixe-me explicar com o único fato: jogadores stealth que gostam de derrubar seus oponentes no corpo-a-corpo vão ter um pouco de dor de cabeça, pois um takedown é pago em energia, como se fosse um aprimoramento qualquer. Isso não faz sentido, movimentos como correr e pular alto não consomem, mas socos sim. Como explicar isso?
Por mais estranho que pareça, no entanto, não estraga a diversão: são as passas no arroz de natal.
Os gráficos me surpreenderam: expressão facial e jogos de luz foram muito bem maquiados para parecerem de última geração, e realmente parecem. Efeitos de fumaça, água e fogo são naturais, apesar de sacrificarem framerate, às vezes.
Outro problema que enfrentei foi a confusão de falas: personagens, às vezes, diziam coisas totalmente diferentes da legenda e do contexto. Isso é um bug grotesco que confunde as falas dos NPCs e até do próprio jogador, fazendo algumas conversas, às vezes, não fazerem o menor sentido.
Com uma trilha sonora sensacional, passei os momentos de combate com os nervos à flor da pele e os momentos de passeio por Praga com um gosto agridoce de conforto, porém alerta: nunca se sabe quando a próxima confusão irá começar. A música, apesar de não ser memorável, não te deixa esquecer isso.
O jogo oferece a horrível opção de microtransações por melhorias no jogo. Mas, se não tivesse encontrado, dificilmente teria percebido. Não são necessárias. O modo Breach me pegou com a força de dez cavalos mortos, e depois dos 4min25seg desse modo de jogo, resolvi voltar ao modo principal e ser feliz.
O resumo da ópera é que vale muito a pena. Deus Ex vai entrar no seu coração como entrou no meu, e você vai explorar Praga com a consciência de que o desconhecido sempre vai assustar os ignorantes, mas instigar os impetuosos.
8.62
8.62
10
Overall
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