THE SWAPPER
PSN 100% (12/09/2019)
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Um jogo de plataforma e puzzles inteligentes, com uma narrativa
instigante de temática científico-espacial. É um interessantíssimo game indie,
idealizado e produzido por pouquíssimas pessoas que, a meu ver, são dotadas de
mentes habilíssimas, pois conseguem aqui realizar uma congruência singular de
elementos tais como ambientação (uma ótima alternância de luz e sombra), trilha
sonora, quebra-cabeças e enredo. O game consegue ser bonito, imersivo e
profundo em sua ambientação e proposta, ao mesmo tempo em que minimalista e
versátil em sua jogabilidade. E prova como é possível se fazer algo novo a
partir do que já está estabelecido como paradigma, fórmula ou gênero. Um título
único, mesmo! Ainda bem que ele não ficou só para PC e foi lançado para os
consoles também.
Com respeito aos puzzles, confesso que normalmente não sou muito
bom de raciocínio, e nesses jogos com esse tipo de desafio, costumo me utilizar
da velha e bruta tentativa e erro e também do auxílio da, por vezes iluminada,
intuição. No caso, para terminar todos os quebra-cabeças e obter todos os necessários
orbs, ficaram faltando resolver uns quatro finais, e diante de uma certa
urgência de tempo e com a mente já embaçada, acabei recorrendo a um vídeo do
Youtube para ver a solução. Com respeito aos troféus, existem dez terminais
escondidos ao longo do mapa, este que pode ser visto como um mundo aberto até,
através do qual o jogador pode se deslocar por meio de portais de
teletransporte, só consegui encontrar dois, os oito restantes acabei me valendo
de vídeo também, e realmente, não são nem um pouco óbvios de serem localizados.
Os puzzles são muito prazerosos de serem resolvidos, e depois que finalizei o
jogo a primeira vez, e uma segunda para saber o outro final, zerei ele mais
umas três vezes só pela boa sensação de recompensa de um speedrun resolutivo de
quase duas horas.
A jogabilidade é focada num dispositivo chamado “swapper” (que dá
nome ao título, e que podemos traduzir como “o permutador”), que possui a
função de clonagem, capaz de criar até 4 clones funcionais (que agirão de forma
sincronizada com o corpo-matriz, no caso o nosso astronauta), além também da função
de transferência de consciência entre esses corpos, podendo o personagem optar
pelo corpo final que desejar, conforme a conveniência da situação-desafio. Os
clones se desfazem quando são tocados pelo corpo-matriz, isto é, o corpo que
está possuindo a consciência ou “alma”. Cada sala que guarda os orbs que o
jogador deve coletar possui características que limitam ou condicionam o uso do
dispositivo swapper, e essas características são os botões de pressão no chão
ou teto, a inversão de gravidade, e a propagação dos espectros visíveis de cor
vermelha, azul e rosa cuja radiação restringe, respectivamente, a transferência
de consciência, a replicação de cópias/clones, e por fim a total inibição do
dispositivo. Os puzzles tanto mais aumentam de complexidade/dificuldade quanto
mais essas condicionantes ou variáveis se combinam num mesmo puzzle, conferindo
dinâmicas diferentes. É um daqueles jogos onde, como li em um lugar, “os
puzzles apenas somam-se a experiência de contar e avançar em uma história; não
é um game que funciona pelos puzzles, mas os puzzles que funcionam pelo game”.
Desde a primeira vez que joguei, fiquei tentando conectar as
informações dadas pelo game (a partir do meu rudimentar entendimento de inglês)
através dos terminais (registros e diários, os “logs”, e também as informações
obtidas nos terminais secretos), dos diálogos (ora com outra personagem
astronauta, ora entre as vozes de outras pessoas) e das telepatias (os
pensamento das “watchers”, as rochas “vivas”). Mas acabei fazendo uma ideia não
muito esclarecida dos eventos do game, então fui pesquisar na internet e
encontrei vários reviews, de sites grandes e pequenos, de jogadores que também
se encantaram pelo game. E realmente, o enredo é instigante e tem mérito em
problematizar conceitos metafísicos como alma, identidade, consciência, e o
quanto a realidade física/material/cósmica, estudada pela ciência, pode
corresponder a essas supostas realidades – o que é o pensamento senão meros
impulsos eletro-químicos? Ou o escopo é mais abrangente que a realidade orgânica?
A mente é algo que não se limita ao cérebro? E o que são as tais “cadeias
mentais” de que insistem em falar as formas aliens de vida pesquisadas, as
“watchers”? A destruição é mera transformação advinda da desconexão de uma
cadeia de existência, sendo a desconexão tão somente uma “escassez de
conhecimento”? Um clone é só um clone? O jogo faz jus à ambientação de seara
científica quando envereda por conceitos da física, filosofia, psicologia e
ética.
O jogo se passa num futuro longínquo em que após os recursos
naturais da Terra terem se esgotado, a humanidade criou sete estações de
pesquisa e colonização para coleta e extração de recursos em lugares distantes
do universo. O jogo se passa numa dessas estações de pesquisa, denominada de
Theseus, que está em órbita do planeta Chori V, onde os pesquisadores passaram
a estudar rochas que manifestam atividade eletroquímica e alguma forma de
inteligência. De alguma forma, as coisas começaram a desandar – na verdade, as
tais rochas parecem ser bem mais inteligentes do que parecem, e trazem consigo
uma forma de vida mortal para os humanos, e nesse curso a estação de pesquisa acaba
se tornando um lugar deserto e com uma série de mal-funcionamentos. Devemos
descobrir o que aconteceu com os pesquisadores e por que a estação se encontra
naquele estado. Mas para todas as questões levantadas pelo jogo - desde sobre
quem é o personagem principal, passando pelos eventos dentro da estação, até as
definições dos conceitos metafísicos - o mistério permanece até o fim.
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@platinadores
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