Acima, da direita pra esquerda, os modelos FAT, Slim e Super Slim do PS3
Ontem, dia 29 de março, a Sony anunciou oficialmente o fechamento dos servidores da PlayStation Store do PlayStation 3, PSP e Vita, para transtorno geral de muitas pessoas. Apesar de ainda ser possível baixar jogos já adquiridos (e, presumivelmente, atualizações), a óbvia desvantagem dessa decisão é a perda de acesso de milhares de jogos nas 3 plataformas (por isso o título "3 gerações", sem contar os jogos PlayStation Classic, o único meio oficial de comprar jogos antigos da Sony). Isso é grave porque 1) por mais que os 3 consoles tenham entrada de mídia física (com exceção de um modelo do PSP), é de se presumir que coleções inteiras foram feitas a partir de jogos digitais (felizmente não foi o meu caso... para o PS3) pelas aparentes vantagens da mídia digital, no caso praticidade e possibilidade de preço menor; e 2) com a dificuldade de comprar jogos físicos cada vez maior conforme as gerações passam, os jogos digitais do PS3 eram a forma mais indicada (e talvez a única forma oficial) de comprar jogos.
Com o fim da loja digital desses consoles de meados dos anos 2000 (e o Vita), as únicas possibilidades de comprar jogos dessas plataformas é por emulação, que nesse caso funciona muito bem, mas ainda não está perfeita como para o PS2; colecionar jogos físicos, o que pode não ser financeiramente viável; ou caso more nos EUA ou tenha um VPN, usar a PlayStation Now, um serviço de streaming de jogos com retrocompatibilidade... que não tem todos os jogos e é STREAMING, óbvio que não será a mesma coisa que possuir uma cópia do jogo. Ainda possui uma 4ª opção, que é basicamente piratear esses consoles digitalmente e usar um servidor proxy para simular a PS Store e assim comprar os jogos (pelo menos foi o que eu vi algumas pessoas metidas a hackers especularem)
Por quê isso aconteceu?

Em resumo, manter um servidor custa dinheiro, e não é pouco. É de se presumir que, com o esvaziamento cada vez maior dessas plataformas, os servidores já pararam de dar qualquer lucro anos atrás. Isso não seria um problema se um acervo desses não estivesse nas mãos de uma companhia com fins lucrativos, e pra piorar, a única com a propriedade intelectual das IPs do acervo (no caso, jogos) e com poder de decisão do futuro deles.
Ou seja, eu, empresa responsável pela distribuição de um produto o qual as pessoas se importam, posso simplesmente decidir fechar esse meio de distribuição sem prestar contas a ninguém a não ser o meu próprio lucro.
Foda, né?
Pela necessidade de preservação sem fins lucrativos

Servidores do Internet Archive, organização sem fins lucrativos responsável por preservar URLs de internet, mas não só
Claro que, a princípio, se a empresa não colaborar, sempre há o bom e velho emulador e sites de ROMs para nos ajudar. No entanto, enquanto o PS Vita e PSP tem emulador até pra celular, o PS3 é um dos consoles mais difíceis de programar da história (por mais que eu ame que esse console, é necessário reconhecer), e isso se reflete no emulador e nas ROMs deste. Seu principal emulador, o RPCS3, que ainda usa software de código aberto para que mais colaboradores ajudem no projeto, ainda não está viável nem para os exclusivos principais, mesmo 15 anos depois da estreia do console, Para se ter uma ideia, nesse mesmo período de tempo, o PS2 já tinha seu principal emulador, o PCSX2, totalmente funcional e quase sem falhas de otimização. Claro que são arquiteturas diferentes, mas essa comparação é para evidenciar as dificuldades existentes.
Mas mesmo desconsiderando os defeitos, e supondo que um dia os emuladores irão imitar com perfeição os consoles, ainda é perigoso deixar algo tão importante quanto preservação de jogos nas mãos de diletantes, que ainda que possam estar organizados, estão à mercê de processos judiciais que põem em risco seu acervo (nesse sentido, a Nintendo consegue ser ainda pior que a Sony). É necessário que haja um esforço consciente para salvaguardar os videogames e derivados (consoles, revistas, sites, etc.), e por mais que existam belas iniciativas, são isoladas.
Conclusão

No instável cinema brasileiro, onde diretores e produtoras vem e vão, a Cinemateca Brasileira acaba por ser o tesouro vivo do cinema brasileiro, e até de filmes que ninguém mais quer. Por quê não ter algo parecido para games?
O ato deplorável da Sony vai acordar de vez a comunidade, a imprensa e as empresas para a manutenção de seu acervo para além de uma ou outra oportunidade comercial de um jogo antigo conhecido? Talvez. Incrivelmente, quem já está se movimentando para achar uma solução é a tão mal falada academia (nem precisa ser de um periódico estrangeiro; a arquivologia brasileira já tem discussões em andamento sobre o assunto). Mas a verdade é que não sabemos o que o futuro reserva para a memória dos games. Acredito, no entanto, que será mais promissor do que o que temos hoje, assim como já foi para o cinema e para a televisão.
Mais uma prova de que a emulação e pirataria não são nenhum mal e de que monopólios de produtos é uma bosta sem tamanho.