Em 1999 os donos do Playstation ainda tinham muitos motivos para sorrir com seu console: A plataforma de estreia da Sony no mercado de games mantinha seu reinado de forma isolada mesmo com a eminete chegada de seu sucessor com uma biblioteca imensa de títulos.
Dentre os muitos gêneros que despontaram nessa época podemos destacar 2 que marcaram muitos jogadores e continuam vivos na memória de muitos ainda hoje: o Survival Horror, representado por Resident Evil e o JRPG que só foi notado de verdade pelos "senpais" ocidentais com Final Fantasy VII.
Dois gêneros bastante distintos mas que encontraram um ponto em comum nesse título, surpreendentemente publicado pela rainha dos arcades de luta, SNK.

Capa japonesa do jogo
Monstros & Monastério
Koudelka foi desenvolvido pela desconhecida e já extinta Sacnoth, um pequeno estúdio criado por Hiroki Kikuta compositor, dentre outras coisas, da trilha de Seiken Densetsu 2 e 3 (as continuações do famoso Secret of Mana do Snes, nunca lançadas no ocidente), que resolveu sair da Sqauresoft pra realizar um sonho.
Reza a lenda que Kikuta desejava fazer RPGs diferentes de Final Fantasy e decidiu sair da empresa após negarem a proposta de desenvolver seu projeto por lá.
Empolgado ele achou abrigo na SNK e apostou tudo num jogo que apesar de não ser exatamente revolucionário, conseguiu realmente ser diferente de qualquer outro jogo até hoje.
Trailer incluso na revista oficial Playstation inglesa na época
Koudelka na maior parte do tempo um survivor horror nos moldes de Resident Evil: cenários (goticamente belos) e personagens com movimentação "tanque" presos numa enorme mansão (monastério na verdade) cheia de mistérios e horrores, muitos itens para serem coletados, backtrack e um ou outro puzzle simples. Seria um "clone vitoriano" de Resident Evil se não houvessem batalhas aleatórias enquanto anda pelo cenário e combates por turnos num grid de RPG tático!

Mistura um tanto estranha né? Concordo e devo confessar que essa estranheza me afastou por vários anos de jogar o game. Quando vi que toda hora podia ter batalhas por tuno "iguais" a Final Fantasy Tactics (todo RPG tático era igual e FFT pra mim na época, perdoem a ignorância juvenil), desisti do jogo imediatamente mesmo curtindo a premissa e visual. Eu tinha aversão por RPG tático por não fazer idéia de como jogava na época.^^
Felizmente dei outra oportunidade ao game anos atrás e pude reparar esse grande erro (dei oportunidade a FFT tbm e hj amo TRPGS japas) e só então que percebi que o modo de combate dele não tinha nada de outro mundo e era bem simples até.
Mas vamos falar primeiro do enredo:
Koudelka se passa em 1898 na Inglaterra, num monastério situado em Aberystwyth. A história do jogo começa com uma bela CG mostrando a protagonista que da nome ao game invadindo o local, aparentemente abandonado. Mais tarde se expplica que ela e uma medium e o motivo de invadir o lugar é devido a um pedido de socorro que ela recebeu de um espírito aprisionado de alguma forma no tal monastério.
A primeira coisa que ela encontra ao chegar é um jovem gravemente ferido que a alerta do perigo eminente e lhe dá uma pistola para que se defenda. Em seguida a heroina é atacada por uma espécie de lobisomem e usa a arma para vence-lo.
Após o combate o rapaz conta que seu nome é Edward. Ele assim como Koudelka também invadiu o monastério, mas por um motivo bem menos nobre: ávido por aventura ele ouviu na capital que o prédio tinha muitas riquezas e mulheres(?!) para se saquear e foi conferir, se dando mal na armadilha do monstro.

Como forma de retribuir a ajuda que recebeu, Koudelka usa sua magia para curar os ferimentos de Edward e os dois resolvem seguir juntos na exploração do lugar. Pouco depois os dois Conhecem James, um padre mandado pelo Vaticano para investigar o monastério e a partir dai está formada a party e os três se veem presos num pedaço do inferno na terra, cheio de monstros bizarros, mistérios e ersonagens que não são o que aparentam e uma trama cheia de surpresas.
O trio, apesar dos conflitos de temperamento e intenções, funciona de forma perfeitamente complementar nas batalhas: Edward, representado pelo cavalo do jogo de xadrez, é o tanque do grupo, com grande força física e resistência mas quase nenhuma habilidade mágica, James, o bispo é o mais balanceado dos 3, podendo se sair bem tanto no ataque físico quanto em magias (recomendo magias de ataque) e Koudelka, a rainha, é a mais frágil fisicamente, mas com muita habilidade para o usos de magias tanto de cura quanto de ataque.
O jogador pode usa-los e desenvolver habilidades da forma que quiser, mas é altamente recomendável seguir essa formação para se ter uma vantagem nas frequentes batalhas do jogo.

Como já citado acima, o jogo tem o famigerado sistema de batalhas aleatórias que era tradição nos JRPGs, dai em quase todos os cenários Koudela pode ser "sugada" para uma batalha sem aviso. A grande diferença entre Koudelka e os outros JRPGs está na sua part survivor horror. Como no clássico Resident Evil, não se pode sair gastando suprimentos adoidado porque eles são escassos e se o jogador sair usando armas de fogo pra todos os inimigos que enfrentar rapidamente vai ficar sem munição alguma.
Essa era uma das grandes falhas do jogo pra mim na época, afinal nos Survivor horror a escassez de munição e itens te incentivava a EVITAR os confrontos enquanto a parte JRPG de Koudelka te empurrava pra eles a cada passo. NO entanto, se seguir uma formação eficiente, dificilmente vai ficar sem itens ou munição, basta usar com parcimônia nos combates e abusar das magias e golpes físicos também.
O sistema de batalha não tem muitos segredos. ao iniciar o jogador tem um grid onde deve posicionar os personagens e move-los até o inimigo para que possa atacar.
Cada personagem tem seu turno e pode usa-lo para se mover ou fazer uma ação de ataque. Os personagens dependem de Magic Points para soltar magias e tem atributos padrão do gênero como SRT (força) MAG (magia) INT (inteligência) e por ai vai.
O trio ganha experiência a cada batalha vencida, tendo aumento de atributos e o jogador pode investir alguns pontos no atributos que mais quiser desenvolver também.
As magias também ganham experiência conforme forem usadas podendo chegar ao máximo no terceiro nível.

Fora das batalhas o jogo segue o esquema padrão dos survivor horrors. O jogador controla Koudelka e explora os cenários procurando por chaves e itens para poder avançar,
O enredo é bem interessante e diferente da pegada medieval ou futurista que reinava nos RPGs da época, cheio de conspirações , revelações sinistras e personagens camrismáticos como a pequena e diabólica Charllote, um fantasma vingativo que tenta matar o grupo várias vezes, o simpático casal Hartman, que "recepciona" o trio e os próprios protagonistas, todos cheios de personalidade, brigando o tempo inteiro quando não estão prestes a morrer.
O jogo conta com CGs que eram top de linha na época e ainda são legais hoje recheando os 4 discos e gráficos muito bons, com modelos redenizados em tempo real muito detalhados.
A parte sonora é outro destaque, com músicas marcantes e envolventes compostas pelo próprio Kikuta, que ficam na memória deste que vos escreve até hoje, como o tema de batalha, Waterfall:
O jogo tinha um desafio considerável muito por causa do gerenciamento das batalhas e também pelo fato de existirem alguns puzzles mais complicados e dois finais, sendo que para conseguir o melhor é preciso chegar no ultimo boss do jogo portando um certo item que a protagonista perde no meio da aventura e tem algumas oportunidades de resgata-lo, mas sem aviso do jogo.
Como todo bom JRPG tem um super boss opcional muuuuuiiito mais dificil que o ultimo boss do jogo (que eu nunca consegui derrotar, diga-se de passagem, pelo nivel de grind que exige) e muitos itens pra se coletar no caminho.
O game realmente cumpriu o desejo de seu criador, sendo uma mistura bem peculiar, que apesar de bem feita, infelizmente não agradou a massa. A verdade é que dificilmente um cara que jogava Resident Evil ou Silent Hill iria curtir as batalhas por tunos randômicas (e irritantes pela frequência as vezes) e um jogador de RPG poderia ter dificuldade pra se adaptar ao visual e mecânicas de survivor horror, dai o jogo entrou naquele esquema de ame-ou-odeie e teve uma recepção mista pela critica.

Parte da mídia especializada curtiu, outra parte acheou apenas mediano e as vendas foram bem modestas. O jogo foi um grande fracasso comercial e acabou arruinando a Sacnot financeiramente como todo bom cult...
Não é um jogo pra todos, mas recompensa e conquista quem dá uma chance com certeza. O enredo é bacana, os personagens legais e o gameplay divertido e competente quando se acostuma.
Apesar de vir em 4 CDs o jogo era relativamente curto para um RPG, podendo ser terminado em menos de 10 horas. O que tomava espaço nos discos eram as CGs mesmo.
Legado
Houve uma adaptação pra mangá escrita e ilustrada por Yuji Iwahara no mesmo ano do jogo. Ela era uma espécie de prequel do jogo sem ligação direta contando o passado da protagonista e como ela descobriu seus poderes. O título conta com 15 capítulos e pode ser facilmente encontrada para leitura online hoje em dia:
http://mangas.centraldemangas.com.br/koudelka/koud...
Koudelka é predecessor da série Shadow Hearts lançada no PS2. A trilogia que nasceu e morreu no Playstation 2 se passa no mesmo universo,tendo inclusive a participação (sutil) da própria Koudelka como mãe de um dos personagens do primeiro jogo. A série apesar de nunca ter tido grande destaque tem fãs fiéis e qualidade indiscutivel, mas traz um gameplay bem mais tradicional e bem diferente do primeiro trabalho da Sacnot.
E então, jogou? Nunca ouviu falar? Jogou e achou ruim na época por não entender? Tem sugestões pra essa coluna? Conta ai nos comentários pra nos alegrar e mostrar que valeu a pena passar um tempão escrevendo isso.^^
@jclove
Peguei, vlw! @onai_onai já jogou esse?
@jogosbaratos
Tenho ele original em caixinha, com manual e tudo.