O jogo do Bolsonaro
No começo de outubro (2018) foi lançado pela plataforma Steam um jogo que causou controvérsia e mal estar em alguns setores da sociedade brasileira: Bolsomito 2k18 (BS Studios).
Depois de ler algumas matérias, vídeos de gameplay, comentários e críticas (negativas nas redes sociais e positivas na steam), creio que algumas considerações devem ser tecidas sobre o "jogo do Bolsonaro". [Sobretudo agora porque Bolsonaro foi eleito presidente do país]
Primeiro, uma característica que chama atenção do jogo é a violência presente no jogo. Então, seria hipocrisia por parte de um jogador criticar o aspecto violento desse jogo quando jogamos "normalmente" GTA ou Carmageddon?
Bom, a resposta não é tão simples. Primeiro porque nos jogos citados, só para ficar nos exemplos mais conhecidos, os grupos que sofrem a violência não são específicos. Não estou querendo justificar ou relativizar a violência, porém, quando os grupos inimigos no jogo são generalizados a condição deles é diluída no processo. Já em Bolsomito 2k18 existe uma "semelhança" (para não dizer simulação) de grupos específicos que são percebidos como inimigos no mundo real e digitalizados para o jogo, tornando o objetivo do jogo acabar com esses inimigos.
Segundo, o estilo do jogo estabelece as regras de jogabilidade do mesmo, ou seja, se é um jogo estilo "briga de rua" não existe outra possibilidade de chegar ao seu final sem passar pelas fases derrotando os inimigos, o que geraria uma falsa problemática sobre a violência no jogo. Mais uma vez creio que essa questão deve ser verticalizada um pouco.
A violência simbólica do jogo reflete na violência física, assim como o seu contrário também é verdadeiro. O que isso significa? Infelizmente o desejo de agressão contra os "istas" (comunistas, feministas, gayzistas e outros termos no senso comum que são sinônimos de "inimigos do Brasil") é real. Dessa forma parece que o jogo é uma espécie de simulacro, onde a violência simbólica (e digital) transforma-se em uma válvula de escape do desejo de violência física (real). Já o contrário, na realidade, a agressão deve ser tratada como crime e no jogo você é beneficiado.
Terceiro, um jogo reflete a realidade na qual os produtores estão inseridos. No caso do Brasil, passamos por uma crise política, econômica e social de proporções colossais. O desejo de mudança na situação do país reflete nos anseios da população e, na minha leitura, também dos produtores do jogo. A utilização de posições antagônicas como "heróis e bandidos", "certos e errados", "brasileiros e comunistas" é muito simples para que possamos dar conta da dimensão da profundidade para que essa crise seja solucionada.
Quarto, a indústria e meio gamer experimenta um crescimento substancial na virada do presente século, então questionamentos como esses não deveriam ser feitos porque atrapalham esse processo e são contrários a liberdade de expressão?
A liberdade de expressão é um direito que deve ser preservado e buscado sempre. Porém, liberdade não pode ser confundido com libertinagem, o que isso quer dizer? A liberdade de expressão deve existir porém o respeito à vida humana deve sempre prevalecer. Por mais que seja "apenas um jogo" o momento político na qual passamos possibilita a transposição da justificativa de violência no jogo da "tela" para a "rua".
@hezromvieira arruma as imagens do post. Todas estão como image not found