Nesses 2 dias entre o úlimo check-in e esse, acabei avançando tanto que sou forçado a criar um poder de síntese pra essa entrada. Basicamente, fui vítima do paradoxo do suspense quando Ellie chegou ao aquário e encontrou o casalzinho do grupo da Abby (quem jogou sabe do que eu tô falando), daí ela voltou pro teatro e -PLOT TWIST- foi alcançada pela Abby em um confronto que é cortado subitamente... e aí a gente controla Abby num flashback de 5 anos atrás.
Pra muitos haters deste jogo), se a morte deste não foi o começo da queda, é esse momento aqui que sela o destino do jogo na opinião deles. Mesmo eu, quando vi esse momento pela 1ª vez antes de botar as mãos no jogo, me fez ficar "HÃ???". Mas tudo se justifica aos poucos na jornada, a começar pelo paralelismo narrativo da Abby ser a filha do cirurgião morto por Joel, em um paralelo ao 1º game e o começo do 2º. Depois, conhecendo melhor a WLF, fazendo a óbvia constatação que são gente como a gente e não monstros (coisa que mesmo na vida real é difícil de se aceitar, imagina em uma ficção). Finalmente, em um momento de busca por um dos amigos do grupo de Abby, esta é capturada pelos Cicatrizes (ou, considerando o nome real deles, Serafitas, uma seita milenarista provavelmente inspirada em algum escrito de Jaques LeGoff), onde temos OUTRA cena de trailer, aquele que todo mundo achou que a Abby, que a gente nem sabia que tinha esse nome, era a mãe da Ellie, e aonde, também sem sabermos, nos é revelado o melhor personagem desse jogo inteiro:

Lev, aqui retratado em um momento futuro de TLOU Parte II. Ainda não entramos pra valer na história dele, mas sua dedicação em salvar a irmã já conquista o jogador nos primeiros segundos
Fora a história principal, devo confessar que a caracterização dos Serafitas me intrigou muito, não só pela referência histórica que mencionei anteriormente, mas também pelas particularidades dessa situação toda de Seattle. Aqui, fica óbvio desde o começo que a WLF e os Serafitas estão em guerra, mas como a WLF é basicamente um exército e os "Cicatrizes" (que aliás é um ritual de iniciação provavelmente inspirado em várias religiões reais, mas é óbvio que aqui as coisas são bem mais brutais) são uma seita anti-tecnologia e minoritária numericamente, é óbvio que eles estão perdendo a guerra. Narrativamente, eles já estavam em uma posição ruim desde a flechada da Ellie no último check-in, então ver alguém deles do meu lado ou mesmo ver os documentos no Portão da Profetisa, por sinal mais um triunfo da escrita documental desse jogo...bom, o que eu posso dizer? É interessantíssimo!
Por fim, uma coisa que ficou mais clara enquanto jogava e percebia coisas que antes eu só sabia por cima: dos poucos críticos razoáveis que esse jogo tem (a maioria, ou pelo menos a mais barulhenta, como já devem saber, são reaças e viúvas do Joel; fiquem longe deles!), um dos tópicos mais comuns é o fato de que, nem de longe, o grupo da Abby é tão carismático quanto as figuras de Jackson ou mesmo os personagens solo do 1º jogo. Entendo esse ponto de vista, mas jogando, dá pra ver que a intenção não foi tornar esses personagens carismáticos, algo conquistável, em um jogo realista como The Last of Us, somente a longo prazo, embora as sementinhas tenham que ser plantadas no começo. Aqui, lembra mais obras como 12 Homens e Uma Sentença; a preocupação da direção está em criar uma dinâmica realista e personagens que, mesmo que não conquistem, você ao menos possa compreender, e creio que seja o que TLOU Parte II esteja tentando fazer aqui.
Claro, tem pessoas carismáticas do outro lado da cerca, leia-se Lev e Yara, e estou indo vê-los agora mesmo.
Pra mim foi muito merecido o Glass of the Year. Nunca vi um vidro tão espetacular em outro jogo.